segunda-feira, 26 de maio de 2008

Profissão: palhaço

Hoje tinha um palhaço na praiana. Não um palhaço no sentido de cretino ou babaca. Era um palhaço de circo, desses com nariz vermelho, suspensórios e sapatos grandes. Ele não estava incomodando. Apenas estava lá, sentado, parado, esperando o ponto onde desejava saltar. Olhando pra ele, me lembrei de quando eu queria ser artista de circo. Eu tinha dez anos. Quando criança, tive diversas profissões em mente: astronauta, professora, pintora, bailarina, estilista, engenheira. Quando fiz 14 anos, queria ser bióloga. Aos 15 eu queria ser tatuadora. Aos 16 eu só queria sexo, drogas e rock 'n' roll. Aos 17, escrevi em papeizinhos nomes de profissões: publicidade, relações públicas, jornalismo, odontologia, biologia, oceanografia, história, psicologia, arquitetura e engenharia civil. Depois eu dobrei, misturei, fechei os olhos e escolhi um. Tirei jornalismo. Ótimo. Era uma opção (melhor que nada). Conclusão: não virei artista de circo. E o palhaço continuava lá, sentado, parado, esperando o ponto onde desejava saltar. Até que o sujeito saltou. No mesmo ponto, subiu uma mulher comendo uma maçã. Fiquei observando e sentindo aquele cheiro de maçã recém tirada da geladeira. A moça comeu a maçã inteira, até o caroço, as sementes, o cabinho, tudo. E eu continuava lá, sentada, ouvindo Snow Patrol e me imaginando em Londres, sentada num ônibus vermelho de dois andares, esperando algo incomum acontecer só pra ter o que escrever depois, pra um possível veículo de imprensa alternativa fracassado. Não é isso que deveria acontecer comigo? Não é isso que acontece com pessoas que sorteiam suas profissões com papeizinhos?

domingo, 25 de maio de 2008

Meninas da noite

A princípio, Meninas da noite do Gilberto Dimenstein era apenas um livro, do qual surgiria um trabalho/análise/seminário de Antropologia. Depois de ler, percebi que este é um dos livros que mais apreciei nos últimos dois anos e que recomendo a todos, não só a jornalistas e antropólogos, mas a qualquer pessoa que se interessar pela realidade brasileira.
O livro é do ano de 1992 e foi realizado com o apoio da Folha de S. Paulo.
Inteiramente investigativo, todos os detalhes são relatados de maneira a repercutir nacional e internacionalmente. A reportagem mostra, a cada estapa de uma viagem que percorreu dez cidades brasileiras das regiões norte e nordeste, meninas que foram escravizadas sexualmente ou mantidas em cativeiro.
Com este trabalho, o jornalista não só conseguiu repercussão no Brasil e no exterior, como conseguiu o apoio do governo para libertar as meninas prostitutas e aprisionar seus exploradores que puderam, enfim, sentir na pele o que é viver num cativeiro.

terça-feira, 20 de maio de 2008

The Mix-Up

Para aproveitar essas semanas em que venho ouvindo incessantemente o último álbum dos Beastie Boys, cá estou pra falar do que eu gostei e do que eu não gostei das 12 faixas que compõem este último trabalho dos rappers brancos mais legais de todos os tempos.
Os seus membros, Michael Diamond (Mike D), Adam Yauch (MCA) e Adam Horovitz (Ad-rock), fazem parte de um sucesso infindável, além de serem o primeiro e único grupo de rap com integrantes brancos mais bem sucedido desde 1979. A princípio, a banda se chamava The Young Aborigines e fazia um som influenciado principalmente pelo punk rock. Em 1981, Adam Yauch passou a fazer parte do grupo e mudou o nome para Beastie Boys. A banda ganhou fama rapidamente e logo foram convidados pelos Bad Brains e pelos Reagan Youth para tocarem em clubes como o CBGB e o Max's Kansas City. Entre os anos de 1984 e 1987, os nova-iorquinos deixaram o hardcore e partiram para o rap.
Quando eu digo que os caras são camaleões, não me refiro somente ao estilo musical, mas às diversas mudanças de comportamentos, passando de machistas à budistas. Na música, eles foram influenciados por vários tipos de som em diversos trabalhos, passando pelo jazz, pelo funk, pelo hardcore, pelo rap e hip-hop.

A cada projeto e a cada fase, os Beastie Boys foram amadurecendo. E suas referências culturais também. Por exemplo:O vídeo da música "Sabotage", o qual foi eleito melhor videoclipe de todos os tempos, faz uma paródia aos dramas policiais da década de 70, filmado para se assemelhar aos créditos de abertura de tais shows. O vídeo "Intergalactic" mostra um robô gigante causanto destruição por lutar com uma criatura em forma de lula gigante em uma cidade enquanto dança break, em uma paródia dos filmes japoneses Kaiju. O vídeo de música "Body Moving" é claramente uma sátira aos filmes e shows de TV sobre espiões e combate ao crime, dos anos 60, como James Bond e Batman.
Foram oito EP's, seis compilações e nove álbuns, incluindo The Mix-Up (2007).

The Mix-Up é um disco inteiramente instrumental e com nítida influência dos clássicos de jazz.

As faixas ainda incluem "Suco de Tangerina", assim, em português. A música é uma homenagem a Jorge Ben e teve como inspiração o refresco preparado na tradicional lanchonete carioca "BB Lanches", que descobriram no Rio de Janeiro, na passagem pelo país, em 2006.
Quando artistas contemporâneos trabalham com jazz, percebemos o quanto esse gênero se torna indefinível, fazendo com que o artista se sinta à vontade pra introduzir novos elementos, como instrumentos elétricos, acústicos e estilos musicais que vão do rock ao reggae jamaicano.
Este último álbum dos Beastie Boys é a prova de que o universo musical de seus integrantes é bem mais amplo do que se pode supor pela imagem de rappers machões. The Mix-Up mostra a mistura de estilos que o jovem quer ouvir: sem frescuras, sem conservadorismos. É assim, sempre flertando com outros gêneros musicais que os Beastie Boys vão ser sempre uma das bandas de mais sucesso de todos os tempos.
Apesar de ter gostado à beça, senti falta das rimas "chiclete" e histéricas do Mike D, que fizeram parte da minha infância.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Últimas notícias

Festival de Cannes
Tragédia da incomunicabilidade familiar, "Os Três Macacos" é o melhor filme até agora
Depois da aventura apocalíptica "Ensaio Sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles; dois bons filmes de autor, um israelense ("Valsa com Bashir") e outro argentino ("Leonera"); e um filme francês sem consistência ("Um Conto de Natal"), surgiu hoje o melhor filme da competição até agora: "Os Três Macacos", quarto longa-metragem do turco Nuri Bilge Ceylan. O título refere-se à uma fábula sobre três macacos: o primeiro cego, o segundo surdo e o terceiro mudo, que não conseguem se comunicar. É o que acontece com um pai, uma mãe e um filho na casa dos 20 anos, que sofrem cada um a sua dor sem nunca se falar ou se ajudar. A mãe tem um casamento infeliz com o pai, motorista de um político, e se apaixona por este último. O pai sabe da traição mas finge que não sabe, explodindo de vez em quando em atos violentos. E o filho sente toda essa pressão familiar, agravada pela morte de um irmão mais novo no passado, que se afogou no mar, mas aparece para os parentes sempre que estão sofrendo.

Curta brasileiro "Areia" abre Semana da Crítica de Cannes
Amor, a memória e o espaço são três dos componentes essenciais de "Areia", curta-metragem do diretor brasileiro Caetano Gotardo, que abriu na quinta-feira em Cannes o festival paralelo Semana da Crítica. "É um filme sobre uma situação muito simples", que reúne "uma mulher e um menino na praia", mas é como uma forma de concretizar uma memória, disse o cineasta à Agência Efe.


Televisão
Justiça diz que "Show do Tom" expõe negros, gays e mulheres a situações degradantes
O Ministério da Justiça está monitorando os programas de Tom Cavalcante na Record. O órgão acaba de reclassificar o "Show do Tom" dos sábados, já exibido após as 23h, como inadequado para antes das 21h, por expor negros, gays e mulheres a "situações degradantes".



Shows

John Mayall & The Bluesbrakers 17/05 em São Paulo
Cantor e guitarrista inglês de blues apresenta com sua banda o show do álbum "In The Palace Of The King" e clássicos de carreira. O show será na Via Funchal em São Paulo e os ingressos custam de 60 a 220 reais.

Maquinaria Rock Fest
Festival de rock pesado mistura expoentes do cenário internacional e nomes emergentes, com apresentação de Jasmim St. Claire. Veja abaixo escalação do festival:

17/06
- Biohazard (USA)
- Suicidal Tendencies (USA)
- Sepultura (Brasil)
- Misfits (USA)
- Tristania (Noruega)
- Ratos de Porão (SP)
- Matanza (RJ)
- Muscaria (Equador)
- Korzus (SP)
- Motorocker (PR)
- Sayowa (RJ)
- Embrioma (SP)
- Threat (SP)
- Child of Flames (PR)
- Sun Turns Black (SP)


18/05
- MXPX (USA)
- Suicide City (USA)
- CPM22 (BR)
- End of an Era (USA)
- Massacration (SP)
- Forgotten Boys (SP)
- Rock Rocket (SP)
- Dance of Days (SP)
- Envydust (SP)
- Granada (SP)
- Gloria (SP)
- Voiced (SP)
- Fakenumber (SP)
- Lotus (SP)
- Hevo 84 (PR)
- Corbe (SP)

O festival será realizado no Espaço das Américas em São Paulo e os ingressos custam de 100 a 120 reais.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Falando em Bukowski...

Bukowski, um cara de sorte
"As luzes se apagaram. Ninguém conseguia dormir, mas todo mundo fingiu. Eu não me dei ao trabalho. Tinha um assento de janela e fiquei olhando as casas e as luzes lá embaixo. Tudo arrumadinho em belas linhas retas. Ninhos de formigas. Descemos no Internacional de Los Angeles. Ann, eu te amo. Espero que meu carro pegue, espero que a pia não esteja entupida. Estou feliz por não ter comido uma fanzoca. Estou feliz por não ser muito bom em me meter na cama com estranhas. Estou feliz por ser um idiota. Estou feliz por não saber nada. Estou feliz por não ter sido assassinado. Quando olho para minhas mãos e elas ainda estão nos meus pulsos, penso comigo mesmo: sou um cara de sorte.

A sabedoria do escravo

"Não sei como é pras outras pessoas. Eu tinha de sustentar uma criança, precisava de algo pra beber, precisava pagar o aluguel, comprar sapatos, camisas, meias, essa coisarada toda. Como todo mundo, precisava dum velho carro, de comida, todas as pequenas regalias. Como mulheres. Ou como um dia nas pistas de corrida. Com todas as coisas em marcha e sem jeito de fugir, você nem pensa sobre isso. Bem, como os rapazes diziam, você tinha de trabalhar em algum lugar. Assim aceitavam o que houvesse. Essa era a sabedoria do escravo

The other side of América...

"Para todos os lados, quartos baratos, entupidos de baratas, mas ninguém parecia passar fome: pareciam viver cozinhando coisas em panelões e sentados por toda a parte, fumando, limpando as unhas, bebendo latas de cerveja ou dividindo uma comprida garrafa azul de vinho barato, gritando ou rindo uns com os outros, ou peidando, arrotando ou dormindo diante da TV. Não havia muitagente com dinheiro no mundo, mas quanto menos dinheiro tinham melhor pareciam viver. Só precisavam de sono, lençóis limpos, comida, bebida e pomada para hemorróidas."

Sobre quatro paredes

"As paredes ainda estavam ali, era só dar quatro paredes a alguém que ele tinha uma chance. Nas ruas, nada se podia fazer."

Bukowski, o herói

"É sou o herói, o mito. Sou o não mimado, o que não se vendeu. Minhas cartas são vendidas por 250 dólares lá no leste. E eu não consigo comprar um saco de peidos."

Acomodados e incomodados

"As pessoas simplesmente se acomodam com as coisas. Como o emprego. Acontece. No entanto, são as pessoas excepcionais que fazem o mundo girar. Elas mais ou menos fazem milagres pra gente, enquanto a gente fica sentado sobre o próprio rabo."

O glamour de sua profissão...

"Esse é o problema de ser escritor, o problema principal - ócio, ócio demais. A gente tem de esperar que a coisa cresça até poder escrever, e enquanto espera fica doido, e enquanto fica doido bebe, e quanto mais bêbado mais doido fica. Não há nada de glorioso na vida de um escritor nem na vida de um bebedor."

Bukowski, "um patriota"

"Sabe estou cagando se o país está na merda ou não, contanto que eu me vire."

Sociabilidade

"De alguma forma, nunca consegui me ajustar na sociedade. Não gosto da humanidade. Não tenho o menor desejo de me ajustar, nenhum senso de lealdade, nenhum objetivo de fato."

Saco cheio

"Só pessoas que enchem o saco ficam de saco cheio. Têm de viver se cutucando continuamente pra se sentir vivas."

Pai Herói

"O enterro de meu pai. Atravessamos a rua e entramos na casa mortuária. Alguém dizia que meu pai tinha sido um bom homem. Me deu vontade de contar a eles o outro lado. Que ele era um homem ignorante. Cruel. Patriótico. Com fome de dinheiro. Mentiroso. Covarde. Um impostor. Minha mãe só estava há um mês debaixo do chão e ele já estava chupando os peitos e dividindo o papel higiênico com outra mulher. Depois alguém cantou. Nós desfilamos diante do caixão. Talvez eu cuspa nele, pensei."

Bukowski, "o tradutor de poesia"
"Condicionado sob o montículo da coragem o iminente retângulo mesquinho falsificado não é mais que um gene em Gênova um quádruplo Quetzalcoatl e a chinesa chora agridoce e bárbara dentro de seu regalo!"
- É lindo, vocês não acham? - Mas do que é que ele está falando ? Respondo, está falando em chupar xoxota. Sinceramente, eu espero que ele chupe xoxota melhor do que escreve...

"Dor nossa, minha dor, esta dor de vagabundo estrelas e listras de dor, cataratas de dor ondas de dor, dor com desconto por toda parte"...
- Ele parou de falar em chupar xoxota. Agora diz que não se sente bem. "...

"Uma dúzia de frade, um primo de primo toma estreptomicina e, propício, engole meu gonfalon, Eu sonho o plasma de carnaval do outro lado do couro frenético..."
- Agora ele está se preparando para chupar xoxota de novo.

"Sufoca, Columbia, e os cavalos mortos de minha alma saúdem-me nos portões saúdem-me dormindo, Historiadores vejam esse terníssimo Passado saltado com sonhos de gueixas, mortos treinados com importunismo!"
- Na verdade ele não está dizendo muita coisa. Basicamente, o que está dizendo é que não consegue dormir á noite. Precisa arranjar emprego.

"... O lemming e a estrela cadente são irmãos, a disputa do lago é o El Dorado de meu coração. Venha tomar minha cabeça, venha tomar meus olhos, me surre com uma espora..."
- Agora está dizendo que precisa de uma mulher grande e gorda pra bater nele.


quarta-feira, 7 de maio de 2008

Enquanto isso, na sala de espera...

Comunicado oficial aos fãs de boa música:
O lançamento do novo álbum do meu querido Beck deve sair nas próximas semanas. Segundo a MTV e a gravadora Universal, o disco está sendo produzido por Danger Mouse e terá participações especiais, incluindo a cantora Cat Power. Vamos esperar impacientes.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Radiohead e MTV formam parceria em prol de causa humanitária

Depois do 30 Seconds to Mars produzir videoclipe com propósito de divulgar campanha para combater o aquecimento global, é a vez do Radiohead se juntar à MTV na campanha EXIT (End Explotation and Trafficking) de combate à exploração do trabalho escravo infantil.
O clipe da música All I Need (Rainbows) compõe a representação de um dia de duas crianças: uma é pertencente a uma família de classe média ocidental e a outra é uma criança pobre que trabalha em condições precárias e que talvez nem possua família. Com esse vídeo, o Radiohead acabou por transformar All I Need em um pedido de socorro por parte de milhões de crianças que trabalham em condições desumanas.