quarta-feira, 19 de março de 2008

Mestre da literatura de ficção científica morre aos 90 anos


Nesta terça-feira morreu um ícone da ficção científica, o escritor britânico Arthur C. Clarke. C. Clarke foi autor de mais de cem obras, dentre elas estão "Ilhas no Céu", "Expedição para a Terra", "Cidade das Estrelas", "O outro lado do céu", "Lendas de dez mundos", "Perfis do Futuro", "2001: uma odisséia no espaço" e "O Sentinela", conto que deu origem ao filme 2001: uma odisséia no espaço (há uma possibilidade de, num belo dia de Sol, eu fazer uma crítica sobre esse filme), dirigido pelo mestre Stanley Kubrick.
Clarke estava com 90 anos e, nos últimos tempos, vivia confinado numa cadeira de rodas em decorrência da síndrome pós-pólio.
Segundo o acessor Rohan de Silva, o escritor morreu devido a problemas cardiorrespiratórios.
Em dezembro de 2007, Arthur C. Clarke listou três desejos para o seu aniversário de 90 anos: que o mundo adotasse fontes de energia limpas, que a paz fosse estabelecida no lugar onde ele vivia (Sri Lanka) e que fossem apresentadas evidências sobre a existência seres de extraterrestres.
"Eu sempre acreditei que nós não estamos sozinhos no universo", disse ele na época, em um discurso para um grupo de cientistas, astronautas e oficiais, na cidade de Colombo, no Sri Lanka. "Os humanos estão à espera de que seres extraterrestres nos chamem ou nos dêem um sinal". "Não temos como adivinhar quando isso vai acontecer. Espero que aconteça antes que seja tarde demais."

Mais um gênio que nos abandona em meio a tantos clichês. É mesmo muito triste.

"Quando um distinto mas idoso cientista diz que algo é possível, está provavelmente certo. Quando diz que algo é impossível, está provavelmente errado". Arthur C. Clarke

O bom e o mau fã

Ser bom fã não é só gostar de ir ao cinema. (Cf.: O sertanejo é, antes de tudo, um forte.) É preciso também saber ir ao cinema. O sujeito, por exemplo, que senta muito longe da tela, tem para mim o estigma do mau fã. A dignidade é sentar nas dez primeiras filas, variando a distância conforme o cinema a que se vai. No Metro, a boa fila é a quinta. Distância justa, a imagem bem no foco visual; perfeito. Já no São Luís gosto mais da terceira. São coisas. Agora: da décima fila para trás é positivamente indigno. Esses sujeitos então – a não ser em casos de força maior – que sentam lá nas cadeiras do fundo, me dão sempre uma impressão suspeita de que vieram ali para fazer quinta-coluna. Há, desses, uns fabulosos. Primeiro, se instalam para acomodar a vista. Pouco a pouco vão saltando, tal salmões, ao sabor das tentativas escusas junto às nereidas solitárias, até as filas da frente. Aboletam-se por várias vezes ao lado de inúmeras senhoras. Agora, o grande traço do mau fá é falar no cinema. O indivíduo, ou indivídua, que fala durante a projeção, merece a forca. E os há de variegadas espécies. Há os que lêem alto os letreiros, e esses são a peste. Há os sonambúlicos, que murmuram contra o vilão, torcem pelo "mocinho", avisam o herói do perigo que o espreita, engrolam pequenas frases a propósito de determinadas atitudes da heroína. São fãs idióticos, menos cacetes, às vezes até gozados. No entanto, dentro do tipo em epígrafe, o mais irritante é o que chuchota histórias que nada têm a ver com o que está passando ali. É uma especialidade de mulheres, que vão com amigas ao cinema, para fazer hora. "Porque dona fulaninha disse, patatá-patatá, nhé-nhé-nhé, au-au-au, ela está com um vestido, minha filha, UM AMORR!" Aí a gente vira,a cabeça para trás, olha a faladeira, pensa mal dela, pigarreia e volta à posição normal. O cacarejo se smorza, mas é por pouco tempo. Mulher tem uma facilidade fabulosa para passar por cima dessas coisas. É um animal de repetição. Se possui o mau hábito de não ter o dinheiro pronto na hora de saltar do ônibus, repetilo-á pelo resto da existência. É inútil. Trinta e duas pessoas com pressa que esperem. Outro mau fã de grande vulto é o que senta nas cadeiras da esquerda ou da direita, ficando de três quartos para a tela. São sujeitos que têm vocação para tabela. O chupador de caramelos é outro. É tchoc, tchoc, tchoc no ouvido da gente, como se estivesse andando na lama ou coisa parecida. O fã cuidadoso para desembrulhar balas também é um errado. O barulho do papel desembrulhado devagar é muito mais irritante que o de desembrulhar rapidamente e acabou-se a questão. E os casais enamorados, que desgraça! "Você gosta de mim?" "Gosto!" "Mas gosta mesmo?" "Mesmo!" "Muito?" "Muito!" "Mas jura?" "Juro, juro, juro, pronto, tá satisfeito?" Depois, dois suspiros fundos como os cariocas no último jogo com os paulistas (eu sou carioca, vejam lá!). E recomeça: "Mas você gosta mesmo?... Etc...". A fauna é grande. Poderia citar muitos outros casos. Mas percebi, de repente, que nada disso tem a menor importância diante da lua que está no céu. Preciso apagar a luz, ficar quieto vendo a lua. Sou um bom fã de cinema, mas muito maior da lua. Hoje ela está cheia e ausente, imparticipante. Me perderei de tudo, olhando a lua.

Vinicius de Morares, 1943

segunda-feira, 17 de março de 2008

Mais uma noite sem dormir...

Quem matou Joana D'arc?
Post que fiz sobre a banda Camisa de Vênus.


Só pra não ficar mais um ano sem atualizar isso aqui.


Au revoir!

sexta-feira, 14 de março de 2008

Carne humana, alma divina.

Hoje é o dia de todos os poetas brasileiros e também dos vendedores de livros. Weeee!
Adoro livrarias, me sinto como uma criança de 5 anos numa loja de brinquedos. Claro que eu não me sinto assim nas livrarias daqui, né? Uma mais pobre que a outra. Mas enfim, não sei o que falar sobre os vendedores de livros, mas sei sobre o que vou falar... Ou melhor, sobre quem eu vou falar hoje, no dia nacional da poesia. Não, não é quem vocês estão pensando. Não vou falar sobre o Castro Alves, apesar de admirá-lo com louvor.
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos é o nome do meu poeta favorito. Parnasiano ou pré-moderno... tanto faz.
Augusto dos Anjos nasceu em 20 de abril de 1884, na Paraíba e se tornou poeta muito cedo, com 7 anos de idade. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, dedicou-se ao magistério e tornou-se professor. Suas obras, consideradas esdrúxulas, são contempladas até hoje pelos amantes da poesia.

Bom, são 04:32 da manhã e eu necessito dormir. Portanto, vou encerrar esta homenagem com um dos poemas do mestre Augusto dos Anjos.


O Martírio do Artista

Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetais células guarda!

Tarda-lhe a Idéia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!

Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...
E como o paralítico que, á mingua
Da própria voz e na que ardente o lavra

Febre de em vão falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem á boca uma palavra!