sábado, 20 de outubro de 2007

ENTREVISTA COM Mª CONCEIÇÃO PEREIRA

Itajaí, outubro 2007.
Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial e Gênero de Itajaí

Brasil, o país do carnaval, do samba, da bossa nova; país da diversidade. Índios, pardos, negros, amarelos e brancos dividem o mesmo espaço territorial. Mas a desigualdade é evidente e grita aos ouvidos de quem é assombrado pelo fantasma mais ultrapassado dos tempos modernos: o preconceito.
Santa Catarina é um dos estados da região sul que mais recebeu imigrantes europeus após a Independência. Contudo, o estado ainda é a região do país onde se concentra a maior parte da população de descendência européia.
Em Itajaí, os primeiros a colonizarem a cidade foram os portugueses vindo da Madeira e dos Açores, logo após, vieram os imigrantes alemães. Essa mistura de culturas é a principal característica da cidade.
Neste espaço ocupado por cerca de 5.866.568 habitantes, sendo a maioria branca, com 88,1%, e negros com 2,7% da composição da população catarinense, como fica a questão da diversidade? O negro adquiriu seu espaço ao lado da maioria descendente de europeus?
A entrevista com uma das líderes negras foi um meio que encontramos para entender a realidade da raça negra na sociedade itajaiense. Dividindo uma sala na prefeitura com outras três pessoas, Maria Conceição Pereira era uma das poucas negras ocupando um cargo de chefia dentre vários funcionários. A professora de educação física formada pela Universidade do Estado de Santa Catarina atualmente responde pela Coordenadoria da Promoção da Igualdade Racial e Gênero de Itajaí. O novo órgão foi criado no mandato do prefeito Volnei Morastoni e visa defender os interesses das classes marginalizadas da sociedade. Maria Conceição nos explica as dificuldades encontradas pelos negros em uma cidade que tem como fonte cultural apenas a açoriana.

Quando e por que razão foi criada a Coordenadoria da Promoção da Igualdade Racial e Gênero de Itajaí?
A Coordenadoria foi criada em outubro de 2004 e instalada em maio de 2005. O prefeito Volnei Morastoni sempre discutiu com os movimentos negros as causas raciais e quando foi presidente da Assembléia criou o programa Antonieta de Barros. Cumprindo os compromissos feito em campanha e visando a melhoria de vida das populações afros-descendentes de Itajaí o prefeito Morastoni instalou a Coordenadoria Municipal.

Qual o intuito da instalação da Coordenadoria no município?
Promover a igualdade racial já que as questões raciais tinham pouca visibilidade. A Coordenadoria olha junto com as secretarias como as questões raciais estão sendo tratadas no município. É uma assessoria do prefeito para a questão racial.

A Coordenadoria é um órgão fixo ou com a troca de prefeitos/partidos ela poderá fechar?
Por se tratar de uma Lei Municipal ela pode vir a ser desfeita. Mas a Coordenadoria criou o Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra órgão este permanente.

Quais foram os feitos alcançados pela Coordenadoria?
A criação do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra, a realização da 1ª Conferência de Promoção da Igualdade Racial que aconteceu em maio de 2005. Produção de material para as escolas, pesquisas e projetos. Hoje temos uma grande diversidade cultural implantada na Escola Aberta onde são praticados os esportes afro-brasileiros como a capoeira. Foi feito o 3º Fórum da Diversidade na Educação e há estudos para implantar uma política de saúde. Estamos planejando agora a 3ª semana da Consciência Negra no município.

No Censo 2000 foi detectado que a população autodeclarada preta está concentrada nas regiões do Sudeste e Norte do país. Já a população preta de SC representa 2,12% do restante nacional. O que esses padrões históricos de povoamento e ocupação étno-demográfico interferem na situação do negro itajaiense?
A parcela dos habitantes negros em Itajaí não é tão pequena, chegando a quase 13% da população (24 a 25 mil habitantes). Como a nossa cidade fica no meio de um vale colonizado por europeus essa população negra é praticamente invisível. Ela existe, mas se torna invisível. Quem olha de fora de Santa Catarina imagina que aqui não existam negros. E a população negra do Estado também não é tão baixa assim, comparando com outras regiões brasileiras é claro que Santa Catarina vai ter um baixo índice, mas dentro do Estado há um grande número de habitantes negros.

Como a cultura negra é retratada em uma cidade em que a maior representação de cultura é a açoriana?
Há uma grande dificuldade, grandes lutas. Pela primeira vez em toda a história de Itajaí temos um governo que admite existir o racismo e que é necessária uma luta pela igualdade. Os passos são lentos, mas pelo menos há uma caminhada. Itajaí vive um momento especial por ter a Coordenadoria que olha pelas questões raciais. Todas as escolas municipais trabalham bem a semana da Consciência Negra e já incluíram em seu currículo questões raciais. Acontece em algumas escolas a Kizomba, a nossa festa, mostrando para as crianças a cultura afro-brasileira.

Como a população entra em contato com a Coordenadoria e como é possível acompanhar o trabalho do órgão?
É muito importante isso, que a população veja o que está sendo feito. As pessoas podem vir até a Prefeitura, 2º andar ou telefonar direto para a Coordenadoria 3341-6148. Há também as reuniões do Conselho, sempre nas segundas terças-feiras de cada mês às 19 horas na sala de reunião da Secretaria de Comunicação. A Secretaria também fica no 2º andar no prédio da Prefeitura.

Quais são os planos para o futuro?
Estamos planejando um Fórum da Região Sul englobando os três estados para discutir as políticas de promoção da igualdade racial que estão sendo trabalhadas na nossa região. Além disso, queremos implantar a política da saúde e realizar a 3ª Semana da Consciência Negra de Itajaí.

Por Tamara Belizário e Sarah de Souza